sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma noite diferente de todas as outras

No findar da tarde do dia 29 de março começou o Pessach, a páscoa judaica. A festa comemora a libertação dos hebreus da escravidão no Egito e marca o nascimento do povo judeu. É a primeira das três grandes festas celebradas pelos judeus; sem ela, todas as outras – Shavuot e Sucot – não teriam sentido.

No calendário judaico, Pessach tem inicio no dia 14 de nissan e se estende por sete dias. É uma festa que reúne toda a família, sendo geralmente realizada nas casas. Todos sentam-se em cadeiras confortáveis e recostados em almofadas macias, pois, “agora não somos mais escravos para comer apressados ou de pé”.

A festividade começa com uma berachá (benção). Em Israel, o mês de nissan é primavera e Pessach marca o início da colheita; em sinal de agradecimento, serve-se as carpas (verduras). A refeição festiva inclui, a matsá (pão sem fermento), para manter viva a lembrança dos tempos de opressão no Egito e ensinar a nunca abusar do poder, a ajudar os necessitados e velar pelo direito do próximo, como foi dito pelos nossos sábios, de abençoada memória, “justiça e bondade é o que a matsá incute na consciência das gerações judaicas”; o marór (ervas amargas), simbolizando a amargura que os antepassados hebreus viveram no Egito; o chorósset (mistura de maça, nozes, canela e vinho), fazendo referência a ‘argamassa’ utilizada pelos israelitas no trabalho forçado de construção para o Faraó; a zerôa (carne assada), em recordação ao cordeiro que era sacrificado quando o Templo estava de pé; e o ovo cozido, além de símbolo de luto pela perda do Templo, também, pela sua forma, ensina que o mundo dá voltas, um consolo para os que vivem momentos difíceis, e uma advertência aos favorecidos pela sorte.

O primeiro dia da festa é chamado de Seder de Pessach, sendo o grande objetivo desta cerimônia cumprir o preceito bíblico: “E contarás a teu filho, naquele dia, dizendo: Pois isto fez Deus por nós quando saímos do Egito”. Por isso, a participação das crianças e jovens é fundamental para o andamento da celebração. Durante o Seder, é lida a Hagadá, um livreto, geralmente ilustrado, no qual está contida a história de Pessach. A leitura é entremeada por cânticos entoados em hebraico.

“Por que esta noite é diferente de todas as outras noites?”, é uma pergunta que sempre é feita pelas crianças judias. E nesse momento, os pais sempre explicam que nesta noite, o anjo da morte “passou por cima” (pessach) da casa dos israelitas, poupando os primogênitos. Que nesta noite, o Eterno estabeleceu juízo contra os inimigos de Israel. Que nesta noite, o Eterno libertou Israel da escravidão no Egito. Assim, ensinam aos filhos o sentido da festa, fortalecendo os laços de identidade judaica.

Antes de terminar a cerimônia, as crianças são convidadas para abrir a porta para Eliahu hanavi, Elias, o profeta. Segundo as Escrituras, o profeta Elias há de anunciar a chegada do Messias, que congregará os judeus dispersos em Israel. É com esse desejo ardente pela reconstrução do Templo e pelo retorno a Érets Israel, que ao final do sêder, em uníssono, todos dizem: Leshaná habá bIrushaláyim (ano que vem, em Jerusalém).

Publicado em O Jornal de 1º de abril de 2010

http://www.ojornalweb.com/2010/04/01/uma-noite-diferente-de-todas-as-outras/

Um comentário:

  1. Dani, primeiro obrigado por me seguir e também por me apresentar a um outro mundo que não conhecia bem: o judeu. Sempre tive curiosidade de saber mais, e agora terei seu blog como fonte. Vale e parabéns.

    ResponderExcluir