domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tu Bishvat: tempo de amadurecer

No final de janeiro, judeus de todo mundo comemoraram o Tu Bishvat, o ano novo das árvores. A data, no calendário judaico 15 de shevat, marca o começo de um novo tempo frutífero. É quando, em Israel, há diminuição do frio do inverno, o fim das chuvas e o início da formação de frutos nas árvores. É o tempo de amadurecer.

Um amadurecimento visto na natureza que leva o povo à reflexão de suas próprias atitudes, pois ensinam os sábios judeus que os homens são como árvores. Vivem duas vidas ao mesmo tempo. Uma, que irradia do solo, crescendo, se fortalecendo, dando frutos, sombra e aconchego a quem precisar. Vida esta, que por vezes está preocupada com as tempestades e com os incêndios. Já a outra vida, as nossas raízes – nosso povo, nossa história, nossas leis –, mesmo não sendo visíveis, devem ser fortes, profundas, e capazes de alicerçar todo nosso ser.

Em Tu Bishvat (ao pé da letra significa 15 de shevat) é costume plantar árvores e ensinar as crianças a cuidar do meio ambiente. Mas, não é só no ano novo das árvores que a natureza entra em pauta. Na cultura judaica, o cuidado com questões ambientais é sempre lembrado.

A Lei de Moisés, a Torá, traz muitos mandamentos relacionados com o zelo ao meio ambiente. Há mandamentos referente a terra: como de manter sempre limpa, cavando buracos para depositar fezes humanas e de animais e depois cobrir com areia; de dar o devido descanso ao solo; de não plantar duas espécies na mesma área etc. Há leis em relação aos animais: não por em mesmo jugo animais de porte diferente (o que hoje em alguns estados brasileiros também é lei, como no Rio de Janeiro); preservar um tempo mínimo do filhote com a mãe; não causar sofrimento aos animais. Há também instruções sobre o cuidado com as árvores. Sobre isso, o Talmud relata “’Quando chegardes ao país, plantai!’. Assim falou o Eterno, louvado seja Seu Nome, a Israel. Mesmo que o país nade em abundância de leite e mel, não deveis dizer: Aqui ficaremos, mas não plantaremos. Deveis lavrar o solo, mesmo no caso de outros o terem feito antes de vós; pois o que plantardes será para vossos filhos”.

Este pensamento é recorrente na literatura judaica. “O sábio Hamaaguel ia pela estrada quando avistou um velho plantando uma árvore frutífera. Quando dará frutos esta árvore? – perguntou. Dentro de uns 70 anos, respondeu o velho. O sábio admirou-se: e esperas viver o suficiente para comer tais frutos? – Quando eu vim ao mundo – replicou o velho – já havia árvores, que meus antepassados plantaram para mim. Da mesma forma, eu planto para os que vierem depois de mim.”

No moderno Estado de Israel, apesar de ser um Estado laico, é um Estado judeu onde a grande maioria da população recebeu forte influência dos ensinamentos judaicos em sua formação cultural e intelectual, e, com isso, desde 1948 vem transformando áreas desérticas em verdadeiros mananciais e área verde. Segundo dados de 2009, dos 22.145 km² de área do Estado, 3.500 km² já são áreas protegidas (esse número chegará em breve a 6.000 km² de acordo com o plano nacional do governo) constituídas de 142 reservas naturais e 44 parques nacionais. Não há mistério nestes números, pois segundo o Governo, são investidos 4,8% do PIB em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

Sim, é tempo de amadurecer. As futuras gerações agradecerão.


Enny Danielle Alves e Rafael Leleu

Artigo publicado em O Jornal de 4 de fevereiro de 2011
http://www.ojornalweb.com/2011/02/04/tu-bishvat-tempo-de-amadurecer-enny-danielle-alves-e-rafael-leleu/

2 comentários:

  1. Na parashá dessa semana (Shelach), lemos o que segue: "... homens que Moisés enviou para espiar a terra; e Moisés chamou Oshêa bin Nun, Iehoshúa [Josué]... Moisés... disse-lhes: 'Subi... e vereis a terra..., se há árvores ou não" (Núm. XIII,16-20). Sempre foi uma preocupação de nosso povo a ecologia, essa preocupação com as árvores, florestas e o reflorestamento da terra vem de longa data, e Moisés pede aos homens que verifiquem o aspecto de tudo. Não é de admirar que, ao retornar da galut, depois de quase dois mil anos, esta tenha sido uma das primeiras tarefas nacionais realizadas pelo povo judeu no moderno Estado de Israel!

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